
Em cada período de minha vida, minha dor sofreu os “enxertos” de minhas interpretações, como não poderia deixar de ser. Com isso ela foi especial, só minha, vivenciada do meu modo.
Não aprendi a interpretá-la de outra forma, pois os que poderiam ter-me dito algo sobre ela, revelando-me seus necessários mecanismos ocultos, estavam sobrecarregados com suas próprias limitações que os infelicitavam.
Vezes sem conta, andei atrás de passos vacilantes e ouvi inúmeras vezes lamentos endereçados à vida.
Em outros, inúmeros momentos, me asseguraram, através de mensagens muito sutis, mas poderosas, que este mundo não era seguro, pois era governado tiranicamente pela dor.
Assim, durante muito tempo, interpretei a dor como inimiga implacável da felicidade, e não como mestra que educa e aponta os Altos Cimos da evolução espiritual.
Houve um dia, porém, em que a dor me sorriu no espelho onde eu via refletidas minhas amarguras cotidianas. Naquele momento, então, compreendi que ela queria somente um espaço em minha vida para me trazer o remédio que cura, e não para tiranizar-me com suas exigências insuportáveis.
Foi através da dor, bem compreendida, que aprendi a retirar das minhas reflexões, a poesia que toca, de forma sensível, os que estão desesperados.
Sendo assim, quando sofro algum impacto emocional que traduzo como desconforto imerecido, permito que minhas reflexões, em contínuo crescimento, me ofereçam o lado bom das experiências difíceis que não pude evitar.
Por isso, hoje dou à dor o mínimo de acréscimo pessoal, e desnecessário, para que ela possa transmitir-me sua própria mensagem desvinculada de qualquer compromisso com meus infortúnios que logo passarão.
TARCISIO ALCANTARA
Caxambu(MG), 24-11-2004