Apesar do muito frio que fazia a matriz ficou repleta de fiéis, que ali foram com o propósito de ascender sua fé e apreciar as homilias do Pe. Paulo Marcelo e também em resposta à convocação que o mesmo preteritamente fizera ao anunciar a importância do dia Mundial das Comunicações Sociais. Mesmo não contando com a presença de representantes das paróquias, que compõem a forania de Prados, as comemorações transcorreram de maneira simples, porém, profícua no propósito de alcançar a contextualização da mensagem contida na Carta do Papa Bento XI, enviada às paróquias.
A missa iniciou com os quatros integrantes da PASCOM, enquanto a Sra. Dinéia tecia os comentários do altar, pela nave se movia uma profissão tendo na frente a Srta Ayla Darlene erguendo o Banner contendo a estampa do Papa Bento XI com o tópico: Silêncio e Palavra Caminho para a Evangelização, seguidas pelo Sr. Nairon carregando uma vela acesa representando a comunicação sobrenatural e o Sr. João Bosco carregando a Bíblia contendo as mensagens desde a criação do universo.
Fazendo o uso da palavra, após a leitura do Evangelho o Pe. Paulo Marcelo de forma precisa e inteligente começou a narrar a responsabilidade que temos em difundir o evangelho, não como forma alienante de apenas ficar olhando para o céu, tal qual os discípulos, mas o de tornar concreta a mensagem salvífica contida ali. Explanou o intuito e a eficaz das PASCOM’S nas paróquias. Paralelo a isso vale a pena recordar a forma de comunicação da Paróquia Nossa Senhora das Dores, que começou de forma bem primária de dentro para fora, através do alto falante, nomeado Voz da Paróquia até os dias de hoje que alcança todas as cidades vizinhas pelas ondas da rádio Atrativa FM. Vale ressaltar e relembrar de homens notáveis, que de forma gratuita, contribuíram para que as notícias se difundissem em meio à comunidade, a saber: Murilo do Olegário com 01 banca de revistas; Cinema do Memeca; Cinema do Salão Paroquial; Cine São Luiz do Zé Raimundo Vasconcelos; as peças teatrais escritas pelo Sr. Inácio Silva e encenadas no Salão Paroquial; O jornal do Patusca; O jornal do Ricardo Arruda e da Teresa Raquel; o Olimpinho Ambrózio com a Rádio América e posteriormente com o Jornal do Poste; a Rádio do Zé Boizinho; em meio a tudo isso tivemos á frente de nossa paróquia o Pe. Antônio dos Santos, quando preocupado em inserir na comunidade Dorense a modernidade, a tecnologia, não poupou esforço, auxiliado pelo Sr. Itamar Urgel dos Santos, até então técnico autodidata em eletrônica, para revigorar a Telefônica Dorense, uma vez que a mesma havia sido implementada pelo Sr. Daniel, de Barroso, no prédio da Coletoria pertencente à Dona Dola, que estava por acabar. Dando seqüência montou na cidade a primeira retransmissora de televisão, onde tornou possível assistir a chegada do homem (Neil Armstrong entre outros) à lua, através da Apollo 11 em 1969, a Copa do Mundo em 1970 e as Missas do Galo proferida, naquela época pelo Papa Paulo VI. A comunidade Dorense, sempre procurou difundir, através da comunicação as notícias de um mundo galopante e estranho, mesmo que de forma precária. Hoje temos várias emissoras de televisão de orientação católicas, milhares de rádios, além da internet.
Implementando a Missa festiva houve coroação de Nossa Senhora, uma vez que é sabido ser o mês de maio, o mês de Maria Santíssima, por diversos anjinhos, sob o comando da Sra. Nilma Marques da Silva.
Para finalizar o acontecimento foi lido pela Srta Ayla Darlene como mensagem o belo conto de Gabriel Garcia Marques intitulado: O Afogado mais bonito do mundo, o qual transcrevo:
É sobre uma vila de pescadores perdida em nenhum lugar, o enfado misturado com o ar, cada novo dia já nascendo velho, as mesmas palavras ocas, os mesmos gestos vazios, os mesmos corpos opacos, a excitação do amor sendo algo de que ninguém mais se lembrava…
Aconteceu que, num dia como todos os outros, um menino viu uma forma estranha flutuando longe no mar. E ele gritou. Todos correram. Num lugar como aquele até uma forma estranha é motivo de festa. E ali ficaram na praia, olhando, esperando. Até que o mar, sem pressa, trouxe a coisa e a colocou na areia, para o desapontamento de todos: era um homem morto.
Todos os homens mortos são parecidos porque há apenas uma coisa a se fazer com eles: enterrar. E, naquela vila, o costume era que as mulheres preparassem os mortos para o sepultamento. Assim, carregaram o cadáver para uma casa, as mulheres dentro, os homens fora. E o silêncio era grande enquanto o limpavam das algas e liquens, mortalhas verdes do mar.
Mas, repentinamente, uma voz quebrou o silêncio. Uma mulher balbuciou: “Se ele tivesse vivido entre nós, ele teria de ter curvado a cabeça sempre ao entrar em nossas casas. Ele é muito alto…”.
Todas as mulheres, sérias e silenciosas, fizeram sim com a cabeça.
De novo o silêncio foi profundo, até que outra voz foi ouvida. Outra mulher… “Fico pensando em como teria sido a sua voz… Como o sussurro da brisa? Como o trovão das ondas? Será que ele conhecia aquela palavra secreta que, quando pronunciada, faz com que uma mulher apanhe uma flor e a coloque no cabelo?” E elas sorriram e olharam umas para as outras.
De novo o silêncio. E, de novo, a voz de outra mulher… “Essas mãos… Como são grandes! Que será que fizeram? Brincaram com crianças? Navegaram mares? Travaram batalhas? Construíram casas? Essas mãos: será que elas sabiam deslizar sobre o rosto de uma mulher, será que elas sabiam abraçar e acariciar o seu corpo?”
Aí todas elas riram e se surpreenderam ao perceber que o enterro estava se transformando numa ressurreição: um movimento nas suas carnes, sonhos esquecidos, que pensavam mortos retornavam, cinzas virando fogo, desejos proibidos aparecendo na superfície de sua pele, os corpos vivos de novo e os rostos opacos brilhando com a luz da alegria.
Os maridos, de fora, observavam o que estava acontecendo e ficaram com ciúmes do afogado, ao perceberem que um morto tinha um poder que eles mesmos não tinham mais. E pensaram nos sonhos que nunca haviam tido, nos poemas que nunca haviam escrito, nos mares que nunca tinham navegado, em suasmulheres que a tempos não desejavam.
A história termina dizendo que ao enterrarem o morto, todos tiveram suas vidas resgatadas, ressuscitadas.
…E aquela vila nunca mais foi a mesma.
P/ João Bosco de Melo
Dores de Campos, 21 de maio de 2012
PASCOM