– Bom dia beltrano! O tempo está esfriando, não está!
– Sim! Se observarmos está com um jeitinho de Semana Santa, não está?
Este pequeno diálogo que ouvimos ou, até mesmo, participamos nos fazem demarcar no tempo um período de reflexões, quando tudo se renova. Parece que existe uma convocação do tempo, para fazer realçar algo dormente em nossa memória de fé, independente da demarcação existente nos calendários. Este período se faz necessário para nos atentarmos para o propósito de nossas vidas, pois estamos caminhando para um encontro ao qual não sabemos aonde e quando se dará, mas para tanto devemos preparar nossas intenções, no sentido de estamos abertos para absorvermos as mensagens e cenas que nos farão melhores.
Para ensejar esse propósito Pe. Paulo Marcelo começou a aprofundar nas homilias o propósito da Campanha da Fraternidade: “Eu vim para servir”, pontuando em cada Sacrifício da Santa Missa, um novo olhar para uma nova situação vivida, para isso convocou todos os movimentos, pastorais e até mesmo os Centros Educacionais na condução desse propósito árduo, porém gratificante, quer seja nas vias-sacras no interior da Matriz Nossa Senhora das Dores, quer seja nos bairros, quer seja no Setenário das Dores de Maria. Nesse último, Maria se manteve suspensa no altar mor observando a turba com uma solicitude de Mãe. A isso o Pe. Paulo Marcelo foi, paulatinamente, costurando a cada dia, dos sete dias, os mistérios dessa Mulher espetacular, precursora do primeiro sim, que dividiu a história em duas partes, que dividiu a Bíblia em dos Testamentos, fazendo com que conhecêssemos um Deus misericordioso em detrimento ao Deus dos exércitos, através do seu filho Jesus. Em tempo aproveitou um ínterim, propício ao tema, e compartilhou com toda a assembléia um belo poema, de sua autoria, que contextualizou de forma poética a natureza da Cruz e de tudo que nela encerra. Consoante a tudo refletido até então, creio, que todos nós já nos encontramos prontos para rememorar os padecimentos da História da Salvação, quando de forma paradoxal nos trouxe a paz e alegrias em nossos corações.
29/03 – Domingo de Ramos
Defronte a Capela Nossa Senhora do Rosário Pe. Paulo Marcelo começou, através do Evangelho de Marcos, a narrar a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém em meio aos ramos soerguidos pelas mãos dos fies, indo em seguida, em procissão à Igreja Matriz na intenção de lá terminar a narrativa, que se concluiu nos momentos finais de sua crucificação.
Tal Evangelho denunciou as artimanhas do poder a serviço da conveniência humana representada por Pilatos, Caifás e Herodes Antipas. Durante a homilia Pe. Paulo Marcelo relatou uma justificativa de uma inocente criança para a não crucificação de Jesus: – Também, por que ele foi para Jerusalém, ele deveria ter ficado em Betânia. Ao que foi respondido: – Esse era o Seu destino, Ele deveria passar por isso! A isso existe uma expressão muito conhecia, através de uma novela: Maktub. Que significa: Estava escrito. À noite, após efetuada a ordem de prisão de Jesus no jardim de Getsêmani ocorreu a procissão do Seu depósito, de maneira discreta, até a Capela Nossa Senhora do Rosário.
30/03 – Segunda-Feira Santa
Pela manhã houve Missa na capela de Nossa Senhora das Dores e logo após a Rasoura de Nosso Senhor dos Passos.
Felizmente, ontem não houve a procissão do encontro e nem tampouco os anunciados sermões: do Encontro e do Calvário, digo felizmente porque com a graça de Deus caiu chuva em abundância.
31/03 – Terça-Feira Santa
Na terça-feira, houve a confissão para casais e logo após a tão aguardada “Procissão do Encontro”, na qual, durante o sermão Pe. Alisson André Sacramento narra o encontro dos Dois Ícones, Mãe e Filho, da Salvação do Mundo pontilhando toda a sordidez humana, mas ao mesmo tempo exaltando toda a ternura denunciada, através do silêncio e do olhar, sem nenhum brado de ódio e de rancor. Logo após a procissão ao narrar o Sermão do Calvário faz um paralelo profundo e inteligente dos muitos calvários que o mundo vive, principalmente, o acontecido no Haiti, quando em meio àquela tragédia uma cruz se faz presente trazendo em seus braços o Cristo Consolador, aquele que se fez presente no mundo, através do amor de Deus e de Maria por nós. Não há por que calarmos, Maria nos aponta o destino de nossa vida, que é Jesus. Há uma passagem na pequena obra prima de Henri Nouwen “A Via Sacra do Mundo”, que narra o encontro de Maria com seu Filho Jesus conjugando o mesmo encontro com os de todas as mães que vivem nas periferias do mundo clamando, sem ser ouvidas, pela justiça. Ao observar Maria constatamos que ela não se escabelou, não desmaiou, não afrontou nenhum soldado romano, apenas olhou para Ele, como se estivesse obedecendo a um pacto de aceitação do que deveria acontecer. É nesse encontro que se observa todo o mistério de aceitação da dor, como objetivo de sorver todo o amor de Jesus e proclamar definitivamente, ao nosso coração, que Maria é a nossa Mãe. Pois ela foi a grande educadora, a grande catequista de Jesus no processo da salvação. Não foi à toa que Jesus disse do alto do madeiro entre Dimas (o bom ladrão) e Gestas (o mau ladrão):__Mulher eis ai teu filho! Filho eis ai tua Mãe! Com essa frase estava selado a aliança da família Universal.
01/04 – Quarta-Feira Santa
Continuando o périplo de Maria à procura de Jesus, a Mesma de manhã saiu em Procissão Rasoura e à noite saiu novamente, agora pelas ruas de nossa Jerusalém dorense. Os fiéis a acompanham, silenciosamente, nessa busca. Enquanto muitos, nas janelas de suas casas, observavam o acontecimento fatídico, tal qual faziam as cegonhas debruçadas nas velhas muralhas da Fortaleza de Antônia. Em meio a tudo isso, compondo a desolação do momento a banda vai executando a trilha sonora que compõe a dor Daquela Extraordinária Mulher. Nos passinho ao som dos motetos ela para e observa a via crucis do seu destino estampados nos pequenos quadros. Em meio a tudo isso relembro a obra de Augusto Cury: “Maria, a maior educadora da história”, que identifica Maria, a Mãe, que de maneira simples cuidou da parte humana de Jesus, incutindo nele o sentido de humanidade, para se estabelecer no mesmo a ponte que uniu suas duas naturezas: a Humana e a Divina, num equilíbrio perfeito. Maria, essa mulher exemplar, soube perdoar a todos, uma vez que sabia, de antemão, que tudo era fruto da ignorância e do medo, medo esse que levou Pedro a negar seu filho três vezes, que fez perdoar a todos que o abandonaram. Essa Mulher que dias depois se uniu a todos no único propósito, continuar o a mensagem salvífica de seu filho Jesus e a mostrar ao mundo que a morte não é o fim. Essa Mulher que hoje percorreu com sutileza e soledade as ruas de nossa cidade, continua, ainda, depois de milhares de anos, a nos mostrar que o sofrimento é a outra parte da felicidade, que uma montanha não encerra o horizonte.
02/04 – Quinta-Feira Santa
Na quinta-feira deu-se o início do Tríduo Pascal, como o próprio nome diz, três dias, quando se prepara para a Páscoa do Senhor. Logo pela manhã, na Catedral Nossa Senhora do Pilar o casal Goulart, Hely e Glaydes, representaram nossa paróquia, Nossa Senhora das Dores, na Missa do Solene do Crisma e dos Santos Óleos, quando à noite na Missa, também, solene da Instituição da Eucaristia e do Sacerdódio o Pe. Paulo Marcelo teve a oportunidade de explicar as três funções que incorporam esses (Santos Óleos), que são para: os Enfermos, os Catecúmenos (recém nascidos, ainda não batizados) e Crisma (confirmação do batismo). A esse tempo houve uma bela encenação, quando foram convidados, através de sorteio, várias homens, que participam da vida paroquial em variadas funções, para compor o cenáculo do Lava-Pés, no intuito de seguir a menção da Campanha da Fraternidade: Igreja e Sociedade – “Eu vim para servir”. Terminada a cerimônia houve Adoração do Santíssimo até as 24:00 horas, quando o altar mor foi completamente desnudado e o bater dos sinos foi substituído pela matraca.
03/04 – Sexta-Feira Santa
Na sexta-feira, mais especificamente às 15:00 horas, ocorreu o cerimonial do Beijo da cruz, que se remonta a uma tradição que vem ocorrendo ano a ano desde o século I,quando Santa Helena encontra parte da Santa Cruz. Para tanto o Beijo da Santa Cruz significa que estamos juntos de Jesus na Cruz de forma concreta, isto é, compartilhando deste sublime sacrifício. Vale ressaltar que este é o único dia que não se celebra o sacrifício da Santa Missa. À noite, em presença de uma multidão inumerável, houve o Sermão do descendimento de Jesus da cruz, quando Pe. Paulo Marcelo do alto do púlpito, tal qual um farol, denunciava toda a vilania dos corações dos fiéis e das práticas vergonhosas da sociedade, mas, também, apontava um caminho a ser seguido. Tais palavras cortavam como lâminas os corações dos fiéis, fazendo a muitos chorarem copiosamente, mas ao mesmo tempo a refletirem que somos humanos, que estamos aqui para aprender a caminhar, sem olhar para trás. Em certos momentos a extensão rouca da voz de Pae. Paulo Marcelo se assemelhava a um trovão, que rasgava aquela noite cheia de estrelas, na intenção de mostrar que acima de nossa pequenez Deus nos vela. Logo após o sermão Paula Nascimento, travestida de Verônica começa a entoar “O vos omnes”:
__O vos omnes qui transitis per viam (Ó vós todos que passais pelo caminho)/Attendite et videte si est dolor sicut dolor meus (Tomai cuidado e vê se há dor como a minha dor)…
04/04 – Sábado Santo
No sábado a Solene Vigília Pascal, seguindo o ritual, inicia-se com acendimento do fogo novo, luz do mundo, através do Círio Pascal (círio vem do latim cereu e significa cera, o produto nobre e puro das abelhas), dando-nos a entender, que o Sacrifício de Jesus não foi um fracasso e sim a vitória para uma vida nova, uma vida alicerçada na dimensão de sua palavra vivificante. Seguindo a cerimônia houve aspergimento de água viva nos fiéis na intenção de mostrar que através da água batismal todos nós nascemos para uma vida nova em Jesus Cristo. Houve as leituras, seguindo o périplo desde o Gênese até a Terra Prometida em Jesus. Em tempo vale ressaltar a forte e competente execução do Glória, quando os Sinos votam a repicar anunciando que Jesus venceu a morte, tal música conduzida pelo maestro Silas Freitas, com a marcação de um tambor, se assemelhou á potência de Carmina Burana de Carl Orff. Foi emocionante! Terminada a Vigília Jesus, já em Hóstia Consagrada, saiu em procissão, através do quarteirão da Matriz, sob um céu coruscado de estrelas propiciado pelos fogos de artifícios.
05/04 – Domingo da Ressurreição
Domingo de Páscoa, há que se pretender que algo mudou nos corações de todos os fiéis, que intuíram e buscaram nas experiências vividas ao longo dessa Semana Santa uma nova luz para os seus caminhos. Se a sua crucificação de Jesus irá continuar, só dependerá de nós. Os diagnósticos foram constatados, através das reflexões e o bálsamo foi distribuído com gratuidade no sacrifício do madeiro, tão bem retratado nas palavras de Pe. Paulo Marcelo, quando do Sermão do descendimento. É lógico que os problemas advirão, mas, com certeza todos estaremos mais fortes. O processo da salvação irá passar, constantemente, pelo crivo da perseverança, da tolerâncias e das privações. Se observarmos o sim de Maria não a privou dos sofrimentos, mas a fez dia após dia ser um exemplo de perfeição a ser seguido. Ela soube se postar e se recuar nas horas certas. Ela soube perdoar e esquecer as transgressões dos amigos, tanto que, quando Maria Madalena se tornou a mensageira da Ressurreição de Jesus, nenhum discípulo creu na notícia e foram correndo ao túmulo vazio, porque eles não perdoaram seu passado equivocado, mas Maria Santíssima acreditou sem titubear. Não há como falar da História da Salvação sem falar de Jesus e Maria, ambos são figuras simbióticas escolhidas por Deus, desde a criação do mundo. Para tanto devemos louvar, sempre Maria, pois quando Jesus a fez Mãe de seu discípulo amado João, Ele a fez Mãe de todos nós. Então Maria da Glória, Mãe Santíssima a Senhora que percorreu as ruas de nossa cidade a demonstrar a todos que Jesus venceu a Morte, continue tal qual nas bodas de Caná a interceder por todos nós, mesmo, como disse Pe. Paulo Marcelo, que não mereçamos tanto amor, tanto cuidado. A Senhora pode constatar o quanto amamos Jesus, quando Pe. Paulo Marcelo tornou possível os pequenos toques dos dedos em seu filho Jesus, transubistanciado na Hóstia Consagrada contida no ostensório. Então Jesus Cristo e Maria Santíssima nunca se esqueçam de nós, mesmo que em nossa pequenez esqueçamos de Vós.
Ave Maria cheia de Graça o Senhor é convosco / Bendita sois Vós entre as mulheres / Bendito é o Fruto de Teus ventre / Amém! Obrigado Mãe querida por nos ter dado o Verbo Divino, Seu Filho Jesus!
Fotos: Pascom
Texto: João Bosco de Melo
Dores de Campos, Março/Abril de 2015.
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