Maio mês de Maria e, também, mês em que culminou de forma atrasada na Abolição da Escravatura, um decreto que tornou legítima a liberdade, somente em palavras, porque até hoje os negros reivindicam a equivalência, na igualdade, que têm por direito. Até hoje os negros sofrem de um inculturamento ao negar a sua negritude, a sua própria história. Em repúdio a tudo isso surgiu a Maria Negra, nossa Senhora de Aparecida, padroeira de uma nação, onde diante da miscigenação, a raça negra se sobressai, mas se submete, ainda, ao capricho da discriminação. Maria mãe negra de tantas Marias e de tantos Joãos, que recebeu um belo discurso na voz poderosa e prodigiosa de Dom Helder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife/PE, em favor da Pastoral do Negro, na Missa dos Quilombos, ao qual se transcreve abaixo, na íntegra:
Invocação à Mariama (Maria – ama)
Mariama, Nossa Senhora!
Mãe de Cristo e Mãe dos Homens!
Mariama. Mãe dos Homens e de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da Terra.
Pede ao teu Filho, que esta festa não termine aqui, a marcha final vai ser linda de viver.
Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho, não fique em palavras, não fique em aplausos.
O importante é que a CNBB, a Conferência dos Bispos do Brasil, embarque de cheio na causa dos Negros, como embarcou de cheio na Pastoral da Terra, na Pastoral dos Índios,
Não basta pedir perdão pelos erros de ontem.
É preciso acertar o passo hoje, sem ligar ao que disserem. Claro que dirão, Mariama, que é política,
Que é subversão, que é comunismo. Tudo Isso è Evangelho de Cristo, Mariama.
Mariama, mãe querida, problema dos negros, acaba se ligando com todos os grandes problemas humanos, com todos os absurdos contra humanidade, com todas as injustiças e opressões.
Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo com a maldita fabricação de armas. O mundo precisa é de Paz!
Basta de injustiças, de uns sem saber o que fazer com tanta terra, e milhões sem um palmo de terra para morar.
Basta de uns tendo de vomitar para poder comer mais, e centenas de milhões morrendo de fome num só ano.
Basta de uns, com empresas se derramando pelo mundo todo, e milhões sem um canto para se ganhar um pão de cada dia.
Mariama, nossa Mãe querida, nem precisa ir tão longe no teu hino.
Nem precisa, que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias.
Nem pobres,nem ricos.
Nada de escravos de hoje ser senhor de escravos de amanhã. Basta de escravos!
Um mundo sem senhores e sem escravos. Um mundo só de Irmãos!
De Irmãos não só de nome e de mentiras,
De Irmãos de verdade. MARIAMA.
Recife, novembro de 1981.
Mais longa do que a servidão do Egito, mais dura do que o cativeiro da Babilônia foi a escravidão do negro no Brasil. E ela perdura, ainda hoje, na discriminação. Apesar de leis punitivas a isso.
O projeto – MISSA DOS QUILOMBOS idealizado e concebido por: Pedro Casaldáliga, Pedro Tierra, Milton Nascimento e Fernando Brant.
João Bosco de Melo
Dores de Campos, maio de 2007.
PASCOM